quarta-feira, 14 de janeiro de 1998

Sexo na praia, no heliporto, na cama


    Ninguém lembrava mais do assassinato de PC Farias - quer dizer, quase ninguém. Antonio Calmon percebeu que aquilo era coisa de cinema (ou de TV, no mínimo) e aproveitou quase na íntegra na estreia de Corpo Dourado, no horário das 19h da Globo. Pelo menos no primeiro dia Calmon resolveu deixar de lado a anunciada comunhão praia-campo e ficou mesmo na areia escaldante, que é terreno que conhece de sobra. Para dar uma temperada, o supracitado clone de PC (vivido por Lima Duarte com calhordice exemplar) e muito sexo. No heliporto, na delegacia, na praia, na piscina - e até na cama.

    A novela começa com uma revelação: Fernanda Rodrigues cresceu que é uma beleza. A menina aparece em sonho como um anjo caído que, ao pisar na praia, fica de biquininho branco, cercada por dois misteriosos homens. Ela é meio doentinha, sabe-se depois. Mas Calmon acredita piamente que não há nada que um bom dia de surfe não cure. "Um pouco de sol vai lhe fazer bem", avisa a alva Maria Luísa Mendonça, que forma com Lucinha Lins o que já se antecipa como o núcleo chato da nova atração - coisa que parece obrigatória depois Regina Duarte e rebenta em Por Amor.

    Mas o negócio de Corpo Dourado é sol. Deixemos pois malas e bagagens sem alça de lado. Marcelo Faria é um garotão boa gente. Desarma os dois pivetes mais bem vestidos que o Brasil já viu e depois impede que sejam linchados - então abandona a cena com um arranhão no braço e a consciência do dever cumprido. O pobre vai ser obrigado a viajar para Paris, "Trocar o sol de Ipanema pela neve en Paris" resmunga o herói dourado. Ele é filho de Rosamaria Murtinho com Lima Duarte, o PC dourado.

    Lima Duarte vai ??? quer morrer. É tarado também - e muito rico. Como quem tem grana não passa fome, fica vendo bundas num telão tamanho família. Tem mulher chupando sorvete, fazendo biquinho, botando a mão no joelho e dando uma abaixadinha. Devidamente inspirado, Lima exige Adriana Garambone. Tem bom gosto, nosso PC videomaker. Adriana está um colosso - sem muita classe, é verdade, mas não se pode querer tudo. Antes de aproveitar aquela gostosura, tem que aturar um motorista insubordinado e apaixonado ("Você não merece sua esposa") e Maria Luísa Mendonça, empata profissional. Depois de um dia inteiro de brincadeiras e travessuras, morre ao lado do banquete, alvejado, apesar da farta segurança.

    Danielle Winits é Alicinha, a gostosa. Marcos Winter é Arturzinho, o José Wilker mais magro e com mais cabelo, numa rara situação de ator que interpreta um ator para interpretar um personagem. Os dois - assim como Lima/PC, pai de Winter/Wilker - são tarados e fazem sexo no heliporto, com direito a declaração de amor ao traseiro da amada e sexo oral nos artelhos da mesma. Depois, Winter sabe da morte do pai em segundo plano - no primeiro está o perfil da parte baixa de Winits, corpo molhado e pele branca num biquíni preto. Santa Bárbara Virgem! Será que alguém prestou atenção no texto?

    Fábio Júnior apareceu rapidinho, com um filho surfista e clima de mistério, muito mistério. Cristiana Oliveira idem, no único momento country do primeiro capítulo, quando Winter se livra se uma vaca louca (literal) e dá de cara com a ex-Juma, cheia de marra. E Maria Luísa Mendonça implorou por sexo na delegacia com Humberto Martins. Implorou mesmo, olhar louco, lábios trêmulos. Depois de muito insistir, teve aquilo que queria. Se Corpo Dourado vai ser assim o tempo todo, é bom o pessoal começar a usar camisinha. (Cotação: ⭐⭐)

COTAÇÕES: 🔴 ruim ⭐ regular ⭐⭐ bom ⭐⭐⭐ ótimo ⭐⭐⭐⭐ excelente

Jornal do Brasil - 14/01/1998


Nenhum comentário:

Postar um comentário